Uma viagem de cinco integrantes do Departamento de Paleontologia da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) e da UFPI (Universidade Federal do Piauí), prevista para durar oito dias e com custo pouco maior de R$ 3 mil, ofereceu uma das maiores contribuições ao campo científico brasileiro nas últimas décadas.
A expedição revelou que um fóssil, encontrado em uma zona entre São Gabriel e Bagé, era de uma espécie de predador anterior aos dinossauros. E que não havia sido ainda catalogada pela comunidade científica internacional. O Pampaphoneus biccai se alimentava de herbívoros menores que ele e tinha as dimensões semelhantes a um leão – cerca de 3 metros de comprimento da cauda à mandíbula e 300 quilos de peso.
O período que o Pampaphoneus viveu mostra o seu valor para a comunidade científica: a datação por estrôncio mostrou que o animal é do período permiano da Era Paleozóica, ou seja, viveu há mais de 260 milhões de anos. Os dinossauros, para se ter uma ideia, são do período cretáceo e viveram entre 145 milhões e 65 milhões de anos. A pesquisa mostrou também como era a vegetação e o clima da época. O paleontólogo Juan Cisneros, chefe da equipe que foi a campo em 2008, explica que o clima da antiga Gondwana (os continentes eram uma massa unida; o Estado, por exemplo, foi separado da atual região da África do Sul) era diferente.
“Tudo era mais seco. Tinha muitas dunas no período permiano, mas as florestas também já estavam presentes”, explicou. Feliz com a repercussão da pesquisa, que será publicada na revista norte-americana “Proocedings of the Nacional Academy of Scientes”, o professor Cesar Schultz, da paleontologia da UFRGS, disse que a equipe já tem um novo projeto em andamento, que deve revelar mais descobertas em breve. “O governo federal aprovou uma pesquisa que vai envolver também Santa Catarina e Paraná. No ano que vem deveremos ter mais novidades. Quem sabe um dinossauro?”, brincou.
Como aconteceu:
Google Earth colaborou
A descoberta dos cientistas gaúchos só foi possível pela análise das imagens através da ferramenta Google Earth. Nela, os paleontólogos localizaram um terreno semelhante ao do fóssil do Pampadromaeus barberenai, dinossauro descoberto no ano passado, em Agudo.
O professor Juan Cisneros, salvadorenho de nascimento mas morando há 12 anos no Brasil, diz que a busca por novos fósseis segue um padrão, como aconteceu com o Pampaphoneus biccai. “Nós tentamos reconhecer lugares A cor das rochas, a textura, o tipo de erosão, tudo segue um padrão”, diz.
Cisneros sintetizou o trabalho de um paleontólogo em campo. “Acordamos cedo, viajamos por horas e passamos o dia debaixo de sol ou chuva procurando por pistas. E comendo só pão com salame”, exclamou.
0 comentários:
Postar um comentário