"Trata-se de um onívoro, ou seja, de um ser que comia de tudo, que é um elo perdido entre os dinossauros carnívoros e os herbívoros gigantes de quatro patas", explicou Oscar Alcober, diretor do Museu de Ciências Naturais da província de San Juan, 1.200 quilômetros a oeste de Buenos Aires.
Segundo Alcober, "esta é uma peça muito importante do quebra-cabeça sobre a origem dos dinossauros".
O cientista faz parte da expedição que, três anos atrás, encontrou os restos no Parque Ischigualasto-Vale da Lua, ao norte da capital de San Juan, no noroeste do país, onde foram realizadas as pesquisas para determinar sua natureza.
A notícia foi divulgada nesta segunda-feira por Alcober e Ricardo Martínez, chefe da área paleontológica do Museu, ao mesmo tempo em que foi publicada na revista científica virtual Plos One, dos Estados Unidos.
"Decidimos divulgá-lo assim para contar com o aval da comunidade científica. E escolhemos a revista Plos One por ser um veículo 'online', o que favorece a democratização das ciências", afirmou Alcober.
Alcober e Martínez coordenaram a expedição que descobriu os fósseis, em 2006.
O elo perdido, batizado de 'Panphagia protos', foi considerado a ligação primitiva entre os bípedes carnívoros e os gigantes herbívoros de quatro patas, denominados saurópodes, que viveram nos períodos jurássico e cretáceo da era mesozóica.
"Em grego, Panphagia significa 'que come de tudo', e protos significa 'o primeiro'", indicou o cientista.
Ao contrário de seus antepassados, o 'Panphagia protos', que tinha 1,5 metro de comprimento e 30 centímetros de altura, era onívoro, dono de uma mandíbula adaptada para se alimentar tanto de carne quanto de vegetais.
"Quando estudamos sua mandíbula, vimos que era mais frágil, e que seus dentes não eram como os dos carnívoros tradicionais", disse Alcober.
A estrutura óssea do onívoro reflete também uma transição entre as duas espécies.
O diretor do Museu de Ciências Naturais indicou ainda que a descoberta permitiu situar em 35 milhões de anos antes a origem dos saurópodes, que "antes havia sido estabelecida em 205 milhões de anos atrás, e agora descobrimos que é de 240 milhões de anos".
"Tivemos a sorte de achar quase 45% do esqueleto e uma variedade de todas as partes, o que tornou a reconstrução bastante fácil e muito rica em informação, porque às vezes só encontramos um osso", acrecentou Alcober.
A expedição científica foi financiada pelo canal de televisão japonês TV Tokio, que filmou a escavação dos fósseis no parque Ischigualasto, conhecido como 'berço dos dinossauros'.
"Os japoneses sonhavam com a descoberta de um grande dinossauro, como o Argentinosaurus. Buscavam algo grande, não imaginavam que algo valioso também poderia ser pequenino", estimou.
A Argentina tem atraído a atenção do mundo científico desde que se tornou um verdadeiro
"Parque dos Dinossauros", no fim dos anos 80, quando foram encontrados na província de Neuquén (sudoeste) restos do Argentinosaurus Huinculensis, o maior herbívoro conhecido, de 40 metros de comprimento.
Em 1993, foram encontrados os fósseis do Giganotosaurus Carolinii, maior dinossauro carnívoro do mundo, entre outras dezenas de descobertas em sítios arqueológicos ainda em processo de exploração.
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