Estudo do crânio de dinossauro revela detalhes de sua dieta

Redação Central, 24 out (EFE).- O exame de um pequeno fóssil do crânio de um jovem heterodontossauro do Jurássico explica como e quando os dinossauros abandonaram a dieta carnívora e começaram a comer plantas.

O crânio do animal, que viveu há cerca de 190 milhões de anos no território que hoje é a África do Sul, foi encontrado durante as escavações realizadas nos anos 60 nesse país, e está no Museu de Iziko, na Cidade do Cabo.

O objeto possui apenas 4,5 centímetros de comprimento e tudo indica que seja de um heterodontossauro muito jovem, pesando até 200 gramas - os adultos tinham cerca de 2,5 quilos.

A doutora Laura Porro, investigadora da Universidade de Chicago, nos Estados Unidos, e co-autora do estudo, explicou que provavelmente os ancestrais de todos os dinossauros eram carnívoros.

Segundo ela, os heterodontossauros, que se encontram entre os primeiros dinossauros adaptados ao consumo de plantas, poderiam representar a transição entre uma e outra dieta.

Eles pertencem ao grande grupo de dinossauros herbívoros, os ornitísquios, mas sua estranha composição de dentes - longos caninos para rasgar e molares para triturar - tinha gerado certa discussão entre os paleontólogos sobre o que eles comiam.

Alguns cientistas pensavam que eles incluíam pequenos animais em sua dieta normalmente vegetariana, enquanto outros sustentavam que comiam apenas plantas e que os dentes eram só uma diferenciação dos machos - um dimorfismo sexual -, como ocorre nos javalis.

O estudo publicado hoje pela revista "Journal of Vertebrate Paleontology" e que revela a presença de dentes caninos na mandíbula do jovem heterodontossauro aponta para a primeira hipótese.

Segundo o doutor Richard Butler, principal autor do estudo e investigador do Museu de História Natural de Londres, essas características em um animal ainda jovem "sugerem que não se trata de um dimorfismo sexual".

Os cientistas suspeitam que os heterodontossauros usavam os caninos para se defender dos predadores ou para caçar algum inseto, pequeno mamífero ou réptil, tratando-se de onívoros ocasionais.

O surpreendente do estudo, e que abre uma nova incógnita, é que não foi encontrada nenhuma evidência de substituição de dentes. Portanto, ao contrário da maior parte dos répteis, os heterodontossauros não deviam mudar constantemente os dentes ao longo de suas vidas.

Aparentemente, se pareciam mais com a maioria dos mamíferos, que mudam os dentes apenas uma vez, com a diferença de que, segundo os autores, este fato devia ocorrer mais tarde, durante o crescimento.

Eles explicam que com um desenvolvimento da dentição mais lento, os dentes se encaixam melhor uns aos outros e a mordida torna-se mais precisa.

No estudo também participaram pesquisadores da Universidade de Cambridge, no Reino Unido.


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