A descrição do G. munizi está na revista científica britânica "Proceedings of the Royal Society B", uma das mais prestigiosas do mundo. Os ossos fossilizados do bicho vêm de uma pedreira no município de Paulista (PE), ao norte do Recife, e sugerem uma viagem épica Atlântico adentro há mais de 60 milhões de anos. É que o animal se assemelha muito a espécies africanas de seu grupo, o que pode indicar que ele "colonizou" a antiga costa brasileira vindo do norte da África.
A análise dos fósseis foi conduzida por José Antonio Barbosa, da Universidade Federal de Pernambuco, Alexander Kellner, do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e Maria Somália Sales Viana, da Universidade Estadual Vale do Acaraú. Achado em rochas de origem marinha (exatamente o esperado para esse tipo de réptil), o animal não estava completo. Os pesquisadores conseguiram recuperar crânio, mandíbula, ossos da pata da frente, vértebras e costelas, entre outros cacos -- mais do que suficiente para caracterizá-lo como uma nova espécie.
Guerreiro
O nome latino do gênero do réptil, Guarinisuchus, significa "crocodilo guerreiro" (numa mistura de tupi e grego) -- e por excelentes razões. Achado entre rochas formadas há 62 milhões de anos (dois ou três milhões de anos após a extinção dos dinossauros), tudo indica que o animal é parte de uma onda mais ampla de crocodilos responsáveis por colonizar os ambientes costeiros logo depois da catástrofe que eliminou os dinos.
Um dos sinais de que isso ocorreu é que, antes da extinção em massa dominada acima, as rochas da região (conhecidas coletivamente pelo apelido de formação Maria Farinha) contêm exemplares de mosassauros, um grupo de grandes répteis marinhos. Em rochas um pouco mais recentes, surge o G. munizi -- possivelmente porque o crocodilo, que tinha uns 3 m de comprimento quando vivo, assumiu o papel "vago" de grande predador marinho.
Tudo indica que, durante os primeiros milhões de anos da era pós-dinos (uma fase da história da Terra conhecida como Paleoceno), crocodilos como o G. munizi, os quais também aparecem no Paquistão e nos EUA, dividiam esse papel ecológico com os tubarões. É a primeira vez que uma nova espécie desse grupo é identificada no Brasil. Nenhum dos crocodilos vivos hoje é um descendente direto desses animais, embora alguns dos répteis atuais tenham "reaprendido" o truque de viver e caçar no mar.
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