Crocodilos pré-históricos se parecem aos do Brasil

Paul Sereno é um dos paleontólogos mais atuantes no campo das descobertas pré-históricas. Professor da Universidade de Chicago e explorador da National Geographic Society, Sereno já descobriu dinossauros em cinco continentes. Na Argentina, em 1988, ele encontrou o mais antigo dinossauro, o Eoraptor, achado que deu origem ao mais completo estudo sobre o início da era dos dinossauros, há cerca de 225 milhões de anos.

Em setembro deste ano, Sereno surpreendeu tanto a comunidade científica quanto os leigos, ao revelar que o famoso tiranossauro rex tinha um antepassado diminuto, o raptorex. Apesar de ter habitado a Terra 60 milhões de anos antes do tiranossauro rex, e embora não passasse de 3 metros de comprimento e 60 quilos, o raptorex já apresentava as características físicas do mais famoso gigante predador pré-histórico.

Isso resultou em aquecidos debates sobre a Teoria da Evolução. Agora, o explorador acaba de divulgar cinco novas espécies de crocodilos encontradas por ele e sua equipe no deserto do Saara (CrocCão, CrocRato, CrocPanqueca, CrocPato e CrocJavali). Sereno concedeu uma entrevista ao Terra, em Washington, e conversou com entusiasmo sobre as novas descobertas, o impacto do raptorex sobre a teoria de Charles Darwin e suas visitas ao Brasil.

Quando estes novos crocodilos pré-históricos foram descobertos?

Comecei a colecionar estes crocodilos em 2000, em expedições na África. Vimos os fósseis despontando de uma pedra e, quando limpamos, vimos que eram importantes para a ciência.

Estes cinco crocodilos têm personalidades distintas. Também queria que os crocodilos africanos contrabalançassem as espécies crocodilianas do Brasil e da Argentina. Estes crocodilos pré-históricos são bastante parecidos com os encontrados hoje no Brasil. Há 80 ou 100 milhões de anos, os continentes estavam ainda se tocando e era possível caminhar da África para o Brasil.

Como você seleciona um sítio para suas expedições?

É preciso ter rochas expostas para encontrar fósseis. Há bastante disso na Nigéria e no Marrocos. É um lugar sem fim. A gente caminha, caminha e caminha, até encontrar algo.

Como são as expedições?

Geralmente, as expedições duram de três a quatro meses. Vamos cavando por tudo. É uma experiência incrível e bem difícil. É por isso mesmo que sabemos que há algo para ser encontrado, pois se fosse fácil, alguma outra pessoa já teria feito a descoberta. É preciso conhecer bem a equipe e controlar o uso da água.

Por que estas novas espécies de crocodilos são interessantes?

Há cerca de 100 milhões de anos, o oceano estava começando a se abrir e as regiões começaram a ficar mais verdes. Os crocodilos começaram a se espalhar. Tornaram-se herbívoros, começaram também a desafiar mamíferos e, até mesmo, dinossauros do tipo raptor.

Alguns deles eram bípedes. Apesar de parecem ter pernas mais longas que as dos crocodilos modernos, na verdade, elas eram de comprimento igual às pernas dos crocodilos de hoje. Estes crocodilos apenas as posicionavam de modo diferente. Todos os animais modernos que andam de pé são de sangue quente, como os mamíferos e os pássaros. Achávamos que os animais de sangue frio se mexiam pouco e ficavam quietos, só tomando sol. Mas estes crocodilos eram bem velozes. Eles conseguiam galopear, assim como somente o moderno "freshy" da Austrália ainda é capaz de fazer.

Por que eles se tornaram extintos?

Os que se movimentavam na vertical foram extintos e os outros que eram mais adaptados a ficar na água por longos períodos, como as tartarugas, sobreviveram. Muitos cientistas acreditam que há uma conexão entre animais de água doce e não extinção.

Quando a chuva ácida começou a cair, os animais não tinham onde se esconder. As plantas morreram. Mas os animais de sangue frio que estavam vivendo em água doce sobreviveram, pois veio mais chuva e, por fim, a água dos rios ficou limpa. Este tipo de animal pode ficar muito tempo sem comer. É provavelmente por isso que as tartarugas e os crocodilos particularmente aquáticos sobreviveram.

Qual destas novas espécies é a sua preferida?

O meu preferido é o CrocPato. Muito bonitinho, com nariz empinado de Pinóquio, com tecido macio. Alimentava-se de peixes e girinos. Imagino ele farejando na margem de um rio, procurando por comida. Ele vivia próximo ao CrocCão e os dois tinham tamanho semelhante, cerca de 12 quilos.

Estes crocodilos viviam em grupos; encontramos grupos de quatro ou cinco juntos. Isso não é incomum em répteis; as cobras também podem viver em grupos. O CroJavali era bem feroz. É uma espécie como nenhuma já encontrada. Era um monstro anfíbio que podia sair da água e correr atrás das suas presas. Alimentava-se principalmente de dinossauros. Tinha cerca de sete metros de comprimento e era capaz de comer algo maior que ele mesmo.

E sobre a descoberta do raptorex, o ancestral miniatura do tiranossauro rex? Qual o impacto disso sobre a Teoria da Evolução?

O raptorex mudou nossas ideias sobre a evolução do tiranossauro, mas não sobre a teoria da evolução. Ele é um ancestral direto dos dinossauros gigantes. Pensávamos que, à medida que estes animais ficavam maiores e suas cabeças ficavam grandes, os braços diminuíam. Isso não é verdade, tudo aconteceu ao mesmo tempo.

Na vida, nem tudo é possível. Para um animal conseguir se equilibrar e correr com uma cabeça tão grande, algo precisa ser sacrificado. Apesar de ser pequeno, a cabeça do raptorex era grande, tinha aproximadamente metade do comprimento do seu corpo. O raptorex aperfeiçoou um estilo de predador.

Você ja foi ao Brasil?

Fui a Minas Gerais e coletei fósseis lá. O Pantanal é o lugar mais lindo que já vi. Andei de barco pelo Rio Negro, e foi uma das jornadas mais fantásticas da minha vida. O meu pai é português, de Madeira, mas nunca aprendi o idioma.


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